De uma pequena rede
social para integrar colegas de faculdade, o Facebook logo se espalhou pelo
mundo e se tornou um instrumento grande o suficiente para auxiliar até na
derrocada de regimes autoritários no norte da África e no Oriente Médio. E
agora ele abre as suas portas para o mercado e dá início, nessa sexta-feira
(18), à negociação de suas ações na Nasdaq. Entretanto, isso levanta,
novamente, uma dúvida: vivemos uma nova bolha tecnológica?
Afinal, como uma
empresa cujo CEO inicia uma carta aos possíveis investidores dizendo que o
Facebook não foi originalmente criado para ser uma companhia pode atrair US$ 16
bilhões, sendo que a empresa é avaliada em mais de US$ 100 bilhões?
Mas profissionais do
mercado são claros: não passamos por uma bolha tecnológica, muito menos se
compararmos com a famosa bolha ponto com, do início dos anos 2000.
“É um momento propício
para a empresa, ela está numa situação muito positiva, e pode melhorar ainda
mais por meio dessa captação de recursos. Foi uma decisão que não pode ser
entendida como uma oportunidade por conta de algum fenômeno, é uma condição
estrutural da economia”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Paralelo
2000
A mudança estrutural
faz referência ao avanço da tecnologia desde a virada do milênio. Afinal, não
só a economia, mas o mundo também mudou. As informações circulam de modo mais
rápido e mais claro, enquanto as regras se tornaram mais severas – o que não
torna impossível o surgimento de uma bolha, mas certamente mais difícil,
reflete Agostini.
O diretor da Austin
Ratings também chama atenção para a diferença entre os momentos econômicos. “No
final dos anos 90 havia um crescimento exacerbado e focado em poucos mercados,
além da preocupação com o bug do milênio, onde as empresas precisavam alavancar
recursos porque não sabiam o que ia acontecer. Atualmente, o crescimento é
amparado por emergentes e a empresa cresce em um momento de retração mundial,
então tende a ser mais sólido”, conclui.
Mas
US$ 16 bilhões?
O temor de uma nova
bolha não surge apenas pela quantidade de novas participantes no mercado, mas
também pelos valores estratosféricos. “Acho que houve certa euforia”, crava
Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper.
Já na visão de Roberto
Gonzalez, professor de governança corporativa na Trevisan Escola de Negócios, a
empresa mostra um bom potencial de crescimento. “Mas será que vale bilhões?”,
pondera, ao concordar que o valor parece exagerado.
“É muito difícil saber
se é uma bolha ou não, porque o Facebook opera um negócio que é difícil de
avaliar”, complementa Almeida. No entanto, o professor acredita que nessa leva
de empresas que despontam como as novas promessas do setor, muitas terão que fechar
as portas, como é normal nos novos negócios.
“A bolha ponto com de
2000 estourou e muitas não sobreviveram. Agora o que deve acontecer é uma
frenética oferta de empresas, e a queda virá, mas para muito menos empresas.”
Resta, agora, saber se o Facebook é uma dessas - apesar do economista-chefe da
Austin Rating avaliar como difícil, já que com essa injeção de recursos a
empresa poderia comprar qualquer uma que a ameaçasse.
Mas, se realmente
acontecer esse estouro, os impactos devem se restringir à economia
norte-americana, justamente por conta desse número menor de companhias,
complementa Gonzalez, que acredita possuir o risco de vivermos a formação de
uma bolha - ainda que em proporções muito menores que a do início do milênio.
Como
se forma uma bolha
Nos últimos tempos,
sempre que uma empresa abre capital ou realiza uma compra bilionária, surge à
questão da bolha. Mas como identificá-la? A bolha é a formação de algo sem uma
sustentação, geralmente influenciadas pela euforia, afirmam os analistas.
Portanto, Alex Agostini
diz que para identificar uma bolha é preciso verificar se os fundamentos são
condizentes com a situação. É preciso comparar os indicadores que determinam o
setor e verificar se eles estão de acordo com a realidade. E, no caso, o avanço
da tecnologia e o seu uso no dia a dia apóia o surgimento das empresas do
setor.
Para exemplificar,
Agostini explica o porquê acredita não haver uma bolha no setor imobiliário
brasileiro. Por aqui, tal setor se valoriza tanto porque há mais demanda influenciada
pelo aumento na renda e no emprego, somados ao déficit habitacional, o que
forçou a um reajuste nos preços dos imóveis, que ficaram muitos anos desabafados.Por: FCDL
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